quarta-feira, 10 de julho de 2013

Sob Domínio

Sob Domínio é de autoria de Julianne E.Carnatio.


Capítulo 1 - Festa de fim de ano

Eu tentava encontrar Valerie entre as pessoas na pista de dança lotada, mas não tive sucesso em localizar os cabelos dourados da minha melhor amiga. O salão estava quente e as luzes começavam a irritar meus olhos... estava tocando uma música da Britney Spears, que eu adorava.
Suspirei, cansada e vencida.
Decidi sair do salão, esbarrando em meia dúzia de pessoas antes de alcançar a porta da saída, e acabei voltando à recepção da NAE. Resolvi explorar a empresa. Corri para o elevador e apertei o botão para o terceiro andar... Era tão bonito. O piso era de mármore bege, tinha algumas poltronas de couro vinho, mas o que chamou a minha atenção foi o arranjo de rosas azuis e primaveras em cima de uma mesa de vidro que tinha "Northern Ambrose Enterprises" gravado. Passei levemente os dedos por cima da gravação, como se a mesa pudesse quebrar com o meu toque.
-Acredito que a senhorita não devia estar aqui. - ouvi uma voz grave censurando, embora tivesse um leve toque de gentileza.
-Desculpe-me... - me virei na direção da voz e vi um dos deuses gregos parado na minha frente. Ele fixou os penetrantes olhos castanhos nos meus, se aproximando. Parecia que meu rosto estava em chamas. -Eu realmente sinto muito, senhor!
Ele deu um sorriso e pegou na minha mão, educadamente.
-Sou Dominic Ambrose. E a senhorita é...
-Katherine Harper. - minha voz saiu estrangulada -É um prazer conhecê-lo, senhor Ambrose.
-Igualmente, senhorita Harper.
Dominic se sentou em uma das poltronas e me convidou a sentar também. Ajeitei meu vestido e me sentei na poltrona em frente a ele.
-Então, a senhorita trabalha para mim?
-Não... - meu rosto ainda ardia -Sou amiga de uma funcionária sua, Valerie Fitzgerald. Ela me convidou pra gente comemorar...
-Comemorar o quê?
Dominic realmente parecia interessado no que eu falava.
-Minha formatura. - desviei meu olhar para o chão, umedeci os lábios e continuei falando -Me formei em Literatura Inglesa na semana passada.
Voltei meu olhar para Dominic, e para minha surpresa, ele fitava meu rosto, distraído.
-Interessante. - ele piscou, como se acordasse de um devaneio -A senhorita deve estar com sede... quer descer para a festa?
Minha cabeça latejou dolorosamente só com a idéia de voltar à festa. Acabei dando um suspiro de dor e Dominic me olhou preocupado.
-Você está bem?
-Estou sim... é que eu não sou de festas, sabe? - Dominic me olhou, incrédulo -Prefiro ficar em casa.
-Quantos anos você tem, senhorita Harper?
Ele se afastou, entrando em uma sala e saindo com uma garrafa de água e uma toalhinha branca. Ele afastou minha franja, umedeceu a toalhinha e a pressionou delicadamente na minha testa.
-Vinte. - peguei a garrafa de água, abri e dei um longo gole -Vou fazer vinte e um no dia 25.
-No Natal?
Assenti, constrangida e virando os olhos para o arranjo de flores. Dominic colocou uma toalha sobre minha testa e estendeu um comprimido de Cevaliv.
-Para a dor de cabeça. - explicou
-Obrigada, senhor Ambrose. -  engoli o comprimido, junto com enorme gole de água.
-Vamos ficar aqui até a sua dor passar.
Não era uma sugestão, a voz dele tinha um tom de ordem, inquestionável. Eu apenas concordei com a cabeça.
-Então, a senhorita é formada em Literatura. Qual foi o seu tema de conclusão de curso?
-Literatura inglesa do século XIX.
-Interessante. - ele levantou uma sobrancelha e me fitou. Olhei para aqueles olhos castanhos e minha respiração ficou acelerada. -A senhorita leu o quê? Jane Austin?
-Quase. Minha monografia abordava "Jane Eyre"... - olhei para os cabelos negros dele, pareciam despenteados e desejei passar meus dedos entre eles. Demorei para perceber que Dominic falava comigo -O quê?
Ele deu uma risada e segurou minha mão. Senti um tipo de formigamento subir pelo meu braço.
-Eu perguntei o que você planeja fazer... Estágio ou trabalhar em uma editora?
-Eu quero ser escritora. Daqueles romances de banca de jornal, sabe?
-Sério? - ele parecia surpreso, enquanto ria.
-É sério! Minha mãe adorava esses romances e dizia que eles deixavam a vida mais rosada. - senti meu estômago roncar e coloquei minhas mãos sobre a barriga, tentando esconder o som.
-Está com fome?
-Um pouco. - respondi sem graça -Acho que estou pronta pra descer.
-Tive uma idéia melhor... Venha.
Dominic me puxou pela mão em direção do elevador. Ele apertou um botão e logo estavámos no subsolo. Um homem com uniforme azul-escuro esperava, próximo a um Mercedes também azul-escuro.
-Crane, leve-nos a um restaurante.
-Senhor... - o homem parecia hesitante -São três e meia da manhã. Acho que não tem restaurantes abertos a essa hora.
Me aproximei do carro, me sentindo subitamente tímida, e toquei o braço dele.
-Senhor Ambrose...
-Sim?
-Eu preciso pegar a minha bolsa na chapelaria. Sabe? Celular, chaves, casaco... essas coisas.
Dominic fez um gesto e o tal Crane se aproximou, solicito.
-Crane, vá a chapelaria e pegue os pertences de Katherine Harper.
Estremeci ao ouvir-lo dizer meu nome.
-Sim, senhor. - e Crane saiu silenciosamente para o elevador.
Eu e Dominic ficamos em silêncio por pouco tempo.
-Eu acho que eu deveria ir buscar as minhas coisas... eu tenho que falar com Valerie.
Olhei para Dominic e percebi que ele fitava a minha boca, quase sem piscar. Molhei os lábios com a ponta da língua e Dominic desviou o olhar, pertubado.
-Você tem uma boca bonita, Katherine. - ele passou os dedos sobre os meus lábios e tocou os dele com os mesmos dedos. -Carnuda... perfeita.
Minha respiração se acelerou. Meus joelhos pareciam ser feitos de gelatina, de tanto que tremiam. Dominic se aproximou de mim, me abraçando e acariciando minhas costas. Suspirei.
Crane chegou naquele momento, carregando meu casaco e minha bolsa.
-Senhor, aqui estão os pertences da senhorita Harper.
-Obrigada, senhor Crane. - me afastei do abraço de Dominic e vesti meu casaco, tremendo. -Mas eu ainda tenho que falar com Valerie.
-Deixe uma mensagem no celular dela. - ele abriu a porta do carro para mim e acabei entrando descoordenadamente, enquanto fazia uma careta de irritação.
Dominic me olhou sério, como se fizesse um reprimenda silenciosa para mim. Nossa... Nem minha mãe fazia isso comigo! Disquei o número de Valerie e, é claro, a ligação caiu na caixa postal. Deixei um recado, dizendo que estava cansada e que tinha pego um táxi para casa. Desliguei.
Dominic me olhava, questionador. Eu desviei meu olhar do dele e olhei para a janela. Passavámos pelo Flatiron. Estavámos muito perto um do outro e parecia ter uma corrente elétrica entre nós.
-Aonde vamos?
-A um restaurante que gosto muito. - ele piscou para mim -E está aberto a essa hora.
Paramos algumas quadras a frente do Flatiron Building. Parecia uma casa normal, exceto pelas mesas cheias do lado de fora e uma pequena placa escrito: Louison.
Saímos do carro e entramos no restaurante. Um homem com um terno bem cortado nos recebeu com um enorme sorriso.
-Senhor Ambrose! É um prazer revê-lo. - o homem não tirava os olhos de mim. Tentei me esconder atrás de Dominic, quase morrendo de vergonha, mas ele agarrou minha mão. -O senhor deseja a mesa de sempre?
-Não, Florian. - a voz dele estava glacial -Quero uma mesa reservada, um pouco mais silenciosa. E o cardápio do dia.
-Entendi... Venham comigo, por favor.
Seguimos aquele homem, silenciosamente. Subimos um pequeno lance de escadas e chegamos a um andar onde tinha quatro ou cinco mesas, todas vazias. Dominic escolheu uma mesa próxima a uma janela e o tal Florian se retirou.
-É sempre assim? - olhei na direção das escadas, meio intimidada.
-Assim como?
-Todo mundo tentando te agradar... - peguei um pãozinho da cesta, o piquei em pedacinhos e mordisquei um. -Deve ser muito irritante.
-Às vezes. Mas prefiro desse jeito.
-Humm... - sussurrei, mordendo mais um pedaço de pão.
Meu celular tocou, avisando que eu tinha recebido uma mensagem. Um garçom aproximou-se de nós, servindo um vinho branco. Peguei o celular, constrangida, e respondi rapidamente.
-Seu namorado? - Dominic deu um gole no vinho, parecendo curioso.
-Não tenho namorado. - dei um gole no vinho, minha garganta estava seca. -A mensagem era do meu irmão... é que nós vamos para Portland amanhã.
-E o que tem em Portland?
-Minha família... e os presentes de Natal, é claro!
Dominic deu uma risada e eu dei outro gole no vinho, alegre. Ele afastou a taça de mim e eu fiz um muxoxo de protesto.
-A senhorita ainda não tem vinte e um anos de idade! - repreendeu ele, sarcástico -Você é minha responsabilidade...
Fiz uma careta para ele, fazendo beicinho feito criança.
-Queria morder essa boca... - Dominic sussurrou, passando o dedo pela boca dele, mas ele sacudiu a cabeça. -Sua família é muito grande?
-É... relativamente grande... meus pais e meus três irmãos.
-E você é a mais nova?
-Não... sou trigêmea e tenho uma irmã menor.
O rosto dele transparecia incredulidade.
-Trigêmea?
-Sim. - dei um gole na água -Tenho um irmão e uma irmã. E você?
-Tenho uma irmã mais nova. - respondeu, demonstrando que não queria falar mais.
O garçom chegou naquele momento, trazendo consigo dois pratos de risoto de alho-poró e filés de frango grelhado, que parecia delicioso. Agradeci ao garçom, que ficou me olhando intensamente. Até Dominic dispensar o rapaz rudemente.
Comecei a comer. Estava realmente delicioso!
-Está bom?
Assenti, com a boca cheia demais para falar.
-Você estava com muita fome mesmo. - gracejou ele.
Ri e respondi ao gracejo.
-Na próxima confraternização, peça para servirem comida de verdade... - Dominic deu um sorriso e não pude evitar sorrir também -Minha mãe ficaria horrorizada com minhas boas-maneiras!
Dei um gole no vinho e fiquei olhando para o sorriso dele... ele parecia um garoto. Terminei de comer o prato de risoto, saboreando cada garfada, até que o garçom chegou com a sobremesa.
-Pedi uma tarte tartin, se você não se incomoda. - ele pegou o garfo e comeu um pedaço da torta.
-Não se preocupe - dei uma mordida e suspirei quando senti o gosto de maçãs mornas na boca. -Adoro doces!
-Bom saber...
Dominic me olhou, pensativo, e comeu um pedaço da torta.
-Em que horário vocês vão para Portland?
-No começo da tarde... Por quê?
Ele segurou minha mão, que estava pousada na mesa, e deu um sorriso encantador.
-Gostaria de te ver novamente... antes dos feriados.
Fiquei pasmada. Ele realmente queria me ver novamente! Não consegui conter um sorrisinho ao olhar para Dominic.
Respirei fundo.
-Então venha me ver amanhã. - minha voz saiu rouca -Antes da minha viagem.
Apertei a mão de Dominic, que ainda estava sobre a minha. Eu queria que ele fosse me ver, nem que fosse por uns cinco minutos!
Ficamos em silêncio por um tempo, apenas olhavamos nos olhos um do outro. Foi Dominic quem quebrou o silêncio primeiro.
-Vamos embora?
Assenti, decepcionada. Achei que ele ia falar algo sobre nos vermos novamente.
Saímos do restaurante e andamos na direção de Crane, que rapidamente abriu a porta do carro para nós. Entrei no carro e me encostei no banco. Estava começando a sentir sono, tanto que nem percebi quando o carro começou a se mover.
-Katherine? - a voz de Dominic era suave como veludo.
Eu nem percebi que havia adormecido. Olhei para Dominic, sonolenta.
-Sim?
-Eu preciso saber onde você mora.
-Ah...  - falei o nome da rua
Dominic virou a cabeça para Crane, que dirigia, e comentou algo. Eu só ouvi o final da frase:
 -Little Italy... não é contra-mão, é?
-Não, senhor. Apenas demoraremos um pouco para chegar lá.
-Não tem problema, Crane... - eu o ouvi sussurrar -É ainda melhor que demore.
Eu adormeci logo em seguida, com um sorriso no rosto.

Acordei com Dominic acariciando minha bochecha e falando meu nome com a voz macia, feito veludo. Olhei pela janela do carro, ainda meio sonolenta, e vi a fachada grafitada do meu prédio.
-Chegamos...
Dominic deu um leve sorriso para mim.
-Sim, srta Harper. Este é o endereço que a senhorita nos deu, não?
-É... - ajeitei os cabelos, peguei minha bolsa e saí do carro. -Obrigada pelo jantar e pela carona, senhor Ambrose.
Dominic passou o braço sobre meus ombros e começou a andar comigo.
-Eu que agradeço, Katherine... foi um prazer.
Fiquei tão encantada e surpresa dele falar meu nome que deixei minhas chaves cairem. Dominic as pegou e me seguiu até a porta do prédio.
Estendi minha mão.
-Preciso das minhas chaves, senhor Ambrose.
Ele sorriu de um jeito que quase fez minhas pernas dissolverem e foi se aproximando de mim. Inconscientemente, fui andando para trás até sentir a parede contra minhas costas.
-Acho que você não pode mais escapar de mim, Katherine. - ele passou os dedos sobre meus lábios, como uma carícia. -Adoro sua boca... quero te morder.
Suspirei, me sentindo absurdamente agitada. Fiquei prensada entre a parede e o corpo forte de Dominic, e conseguia sentir perfeitamente o corpo dele. Ele passou as mãos pelo meu cabelo e, puxando-o para baixo, me beijou. A outra mão estava acariciando meu pescoço, tirando o resto de ar que eu tinha nos meus pulmões, e estava descendo em direção aos meus seios.
Do nada, ele se afastou de mim. Tive que me manter apoiada na parede, tentando encher meus pulmões de ar novamente e, ao mesmo tempo, querendo pedir mais.
-Deliciosa. - mordi o lábio, suspirando, e ele o soltou delicadamente com o dedo, rindo -Absolutamente deliciosa. Qual é o seu apartamento?
Respirei fundo, procurando minha voz no fundo da garganta.
-307. Sétimo andar.
-Bom... te vejo amanhã cedo.
Dominic colocou as chaves na minha mão e andou em direção do Mercedes. Crane rapidamente saiu do carro e abriu a porta do passageiro. Pisquei algumas vezes, procurei a chave e entrei no prédio, completamente atordoada.
Será que não tinha sido um sonho?
Entrei no apartamento na ponta dos pés, não querendo acordar Lex, minha colega de quarto... mas ela estava na sala, de baby-doll e bebendo uma Coca.
-E aí, baladeira? Conheceu algum cara? - piscou, carinhosamente para mim.
Alexandra Daniels era minha melhor amiga. Nós conhecemos na primeira aula de Introdução à Literatura Inglesa, descobrimos que éramos fãs do Muse e dos livros de Jane Austen. Foi amizade ao primeiro "oi".
Abri a geladeira e peguei uma garrafa de água.
-Conheci, sim. Ele me levou pra jantar...
-O quê? - Lex me puxou para o sofá e deu um longo gole em sua Coca diet -Nome, como ele é, onde foram... quero saber todos os detalhes!
-O nome dele é Dominic Ambrose. Ele é lindo.
-Isso é meio óbvio, Kat! Quero detalhes.
-Ok.. Ele é alto, 1m80, eu acho. E muito forte. - corei, me lembrando da cena no lobby -Tem cabelos escuros e curtos, pele bronzeada, sorriso bonito e olhos castanhos muito, mas muito sedutores...
Parei de falar, sentindo meu rosto queimar, e escondi meu rosto com uma edição de bolso de "Jane Eyre".
-Ele te beijou, Kat. Não beijou? - Lex afastou o livro do meu rosto e olhou fixamente para mim, rindo.
Olhei para ela, questionando-a silenciosamente.
 -É que o seu batom está borrado... ele mandou ver!
-O quê? - gritei, correndo para o espelho no meu quarto. Lex tinha razão. Meu batom cor-de-rosa estava borrado, minha boca estava inchada e minhas bochechas estavam rosadas. -Acho que vou dormir...

Lex deu um risada que chegou à vibrar as paredes do meu quarto e ligou a TV em um episódio de "South Park". Cheguei a ouvir o Cartman mandar alguém se fuder. Fechei a porta, entrei no banheiro e liguei o chuveiro, entrando debaixo do jato quente. E deitei na cama, vestida com meu pijama favorito de plush rosa e sem parar de pensar no beijo que Dominic Ambrose me deu naquela noite.

 
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