Sob Domínio é de autoria de Julianne E.Carnatio.
Capítulo 1 - Festa de fim de ano
Eu tentava encontrar Valerie entre as
pessoas na pista de dança lotada, mas não tive sucesso em localizar os cabelos
dourados da minha melhor amiga. O salão estava quente e as luzes começavam a
irritar meus olhos... estava tocando uma música da Britney Spears, que eu
adorava.
Suspirei, cansada e vencida.
Decidi sair do salão, esbarrando em
meia dúzia de pessoas antes de alcançar a porta da saída, e acabei voltando à
recepção da NAE. Resolvi explorar a empresa. Corri para o elevador e apertei o
botão para o terceiro andar... Era tão bonito. O piso era de mármore bege,
tinha algumas poltronas de couro vinho, mas o que chamou a minha atenção foi o
arranjo de rosas azuis e primaveras em cima de uma mesa de vidro que tinha
"Northern Ambrose Enterprises" gravado. Passei levemente os dedos por
cima da gravação, como se a mesa pudesse quebrar com o meu toque.
-Acredito que a senhorita não devia
estar aqui. - ouvi uma voz grave censurando, embora tivesse um leve toque de
gentileza.
-Desculpe-me... - me virei na direção
da voz e vi um dos deuses gregos parado na minha frente. Ele fixou os
penetrantes olhos castanhos nos meus, se aproximando. Parecia que meu rosto
estava em chamas. -Eu realmente sinto muito, senhor!
Ele deu um sorriso e pegou na minha
mão, educadamente.
-Sou Dominic Ambrose. E a senhorita
é...
-Katherine Harper. - minha voz saiu
estrangulada -É um prazer conhecê-lo, senhor Ambrose.
-Igualmente, senhorita Harper.
Dominic se sentou em uma das poltronas
e me convidou a sentar também. Ajeitei meu vestido e me sentei na poltrona em
frente a ele.
-Então, a senhorita trabalha para mim?
-Não... - meu rosto ainda ardia -Sou
amiga de uma funcionária sua, Valerie Fitzgerald. Ela me convidou pra gente
comemorar...
-Comemorar o quê?
Dominic realmente parecia interessado
no que eu falava.
-Minha formatura. - desviei meu olhar
para o chão, umedeci os lábios e continuei falando -Me formei em Literatura
Inglesa na semana passada.
Voltei meu olhar para Dominic, e para
minha surpresa, ele fitava meu rosto, distraído.
-Interessante. - ele piscou, como se
acordasse de um devaneio -A senhorita deve estar com sede... quer descer para a
festa?
Minha cabeça latejou dolorosamente só
com a idéia de voltar à festa. Acabei dando um suspiro de dor e Dominic me
olhou preocupado.
-Você está bem?
-Estou sim... é que eu não sou de
festas, sabe? - Dominic me olhou, incrédulo -Prefiro ficar em casa.
-Quantos anos você tem, senhorita
Harper?
Ele se afastou, entrando em uma sala e
saindo com uma garrafa de água e uma toalhinha branca. Ele afastou minha
franja, umedeceu a toalhinha e a pressionou delicadamente na minha testa.
-Vinte. - peguei a garrafa de água,
abri e dei um longo gole -Vou fazer vinte e um no dia 25.
-No Natal?
Assenti, constrangida e virando os
olhos para o arranjo de flores. Dominic colocou uma toalha sobre minha testa e
estendeu um comprimido de Cevaliv.
-Para a dor de cabeça. - explicou
-Obrigada, senhor Ambrose. -
engoli o comprimido, junto com enorme gole de água.
-Vamos ficar aqui até a sua dor passar.
Não era uma sugestão, a voz dele tinha
um tom de ordem, inquestionável. Eu apenas concordei com a cabeça.
-Então, a senhorita é formada em
Literatura. Qual foi o seu tema de conclusão de curso?
-Literatura inglesa do século XIX.
-Interessante. - ele levantou uma
sobrancelha e me fitou. Olhei para aqueles olhos castanhos e minha respiração
ficou acelerada. -A senhorita leu o quê? Jane Austin?
-Quase. Minha monografia abordava
"Jane Eyre"... - olhei para os cabelos negros dele, pareciam
despenteados e desejei passar meus dedos entre eles. Demorei para perceber que
Dominic falava comigo -O quê?
Ele deu uma risada e segurou minha
mão. Senti um tipo de formigamento subir pelo meu braço.
-Eu perguntei o que você planeja
fazer... Estágio ou trabalhar em uma editora?
-Eu quero ser escritora. Daqueles
romances de banca de jornal, sabe?
-Sério? - ele parecia surpreso,
enquanto ria.
-É sério! Minha mãe adorava esses
romances e dizia que eles deixavam a vida mais rosada. - senti meu estômago
roncar e coloquei minhas mãos sobre a barriga, tentando esconder o som.
-Está com fome?
-Um pouco. - respondi sem graça -Acho
que estou pronta pra descer.
-Tive uma idéia melhor... Venha.
Dominic me puxou pela mão em direção
do elevador. Ele apertou um botão e logo estavámos no subsolo. Um homem com
uniforme azul-escuro esperava, próximo a um Mercedes também azul-escuro.
-Crane, leve-nos a um restaurante.
-Senhor... - o homem parecia hesitante
-São três e meia da manhã. Acho que não tem restaurantes abertos a essa hora.
Me aproximei do carro, me sentindo
subitamente tímida, e toquei o braço dele.
-Senhor Ambrose...
-Sim?
-Eu preciso pegar a minha bolsa na
chapelaria. Sabe? Celular, chaves, casaco... essas coisas.
Dominic fez um gesto e o tal Crane se
aproximou, solicito.
-Crane, vá a chapelaria e pegue os
pertences de Katherine Harper.
Estremeci ao ouvir-lo dizer meu nome.
-Sim, senhor. - e Crane saiu
silenciosamente para o elevador.
Eu e Dominic ficamos em silêncio por
pouco tempo.
-Eu acho que eu deveria ir buscar as
minhas coisas... eu tenho que falar com Valerie.
Olhei para Dominic e percebi que ele
fitava a minha boca, quase sem piscar. Molhei os lábios com a ponta da língua e
Dominic desviou o olhar, pertubado.
-Você tem uma boca bonita, Katherine.
- ele passou os dedos sobre os meus lábios e tocou os dele com os mesmos dedos.
-Carnuda... perfeita.
Minha respiração se acelerou. Meus
joelhos pareciam ser feitos de gelatina, de tanto que tremiam. Dominic se
aproximou de mim, me abraçando e acariciando minhas costas. Suspirei.
Crane chegou naquele momento,
carregando meu casaco e minha bolsa.
-Senhor, aqui estão os pertences da
senhorita Harper.
-Obrigada, senhor Crane. - me afastei
do abraço de Dominic e vesti meu casaco, tremendo. -Mas eu ainda tenho que
falar com Valerie.
-Deixe uma mensagem no celular dela. -
ele abriu a porta do carro para mim e acabei entrando descoordenadamente,
enquanto fazia uma careta de irritação.
Dominic me olhou sério, como se
fizesse um reprimenda silenciosa para mim. Nossa... Nem minha mãe fazia isso
comigo! Disquei o número de Valerie e, é claro, a ligação caiu na caixa postal.
Deixei um recado, dizendo que estava cansada e que tinha pego um táxi para
casa. Desliguei.
Dominic me olhava, questionador. Eu
desviei meu olhar do dele e olhei para a janela. Passavámos pelo Flatiron.
Estavámos muito perto um do outro e parecia ter uma corrente elétrica entre nós.
-Aonde vamos?
-A um restaurante que gosto muito. -
ele piscou para mim -E está aberto a essa hora.
Paramos algumas quadras a frente do
Flatiron Building. Parecia uma casa normal, exceto pelas mesas cheias do lado
de fora e uma pequena placa escrito: Louison.
Saímos do carro e entramos no
restaurante. Um homem com um terno bem cortado nos recebeu com um enorme
sorriso.
-Senhor Ambrose! É um prazer revê-lo.
- o homem não tirava os olhos de mim. Tentei me esconder atrás de Dominic,
quase morrendo de vergonha, mas ele agarrou minha mão. -O senhor deseja a mesa
de sempre?
-Não, Florian. - a voz dele estava
glacial -Quero uma mesa reservada, um pouco mais silenciosa. E o cardápio do
dia.
-Entendi... Venham comigo, por favor.
Seguimos aquele homem, silenciosamente.
Subimos um pequeno lance de escadas e chegamos a um andar onde tinha quatro ou
cinco mesas, todas vazias. Dominic escolheu uma mesa próxima a uma janela e o
tal Florian se retirou.
-É sempre assim? - olhei na direção
das escadas, meio intimidada.
-Assim como?
-Todo mundo tentando te agradar... -
peguei um pãozinho da cesta, o piquei em pedacinhos e mordisquei um. -Deve ser
muito irritante.
-Às vezes. Mas prefiro desse jeito.
-Humm... - sussurrei, mordendo mais um
pedaço de pão.
Meu celular tocou, avisando que eu
tinha recebido uma mensagem. Um garçom aproximou-se de nós, servindo um vinho
branco. Peguei o celular, constrangida, e respondi rapidamente.
-Seu namorado? - Dominic deu um gole
no vinho, parecendo curioso.
-Não tenho namorado. - dei um gole no
vinho, minha garganta estava seca. -A mensagem era do meu irmão... é que nós
vamos para Portland amanhã.
-E o que tem em Portland?
-Minha família... e os presentes de
Natal, é claro!
Dominic deu uma risada e eu dei outro
gole no vinho, alegre. Ele afastou a taça de mim e eu fiz um muxoxo de protesto.
-A senhorita ainda não tem vinte e um
anos de idade! - repreendeu ele, sarcástico -Você é minha responsabilidade...
Fiz uma careta para ele, fazendo
beicinho feito criança.
-Queria morder essa boca... - Dominic
sussurrou, passando o dedo pela boca dele, mas ele sacudiu a cabeça. -Sua
família é muito grande?
-É... relativamente grande... meus
pais e meus três irmãos.
-E você é a mais nova?
-Não... sou trigêmea e tenho uma irmã
menor.
O rosto dele transparecia
incredulidade.
-Trigêmea?
-Sim. - dei um gole na água -Tenho um
irmão e uma irmã. E você?
-Tenho uma irmã mais nova. -
respondeu, demonstrando que não queria falar mais.
O garçom chegou naquele momento,
trazendo consigo dois pratos de risoto de alho-poró e filés de frango grelhado,
que parecia delicioso. Agradeci ao garçom, que ficou me olhando intensamente.
Até Dominic dispensar o rapaz rudemente.
Comecei a comer. Estava realmente
delicioso!
-Está bom?
Assenti, com a boca cheia demais para
falar.
-Você estava com muita fome mesmo. -
gracejou ele.
Ri e respondi ao gracejo.
-Na próxima confraternização, peça
para servirem comida de verdade... - Dominic deu um sorriso e não pude evitar
sorrir também -Minha mãe ficaria horrorizada com minhas boas-maneiras!
Dei um gole no vinho e fiquei olhando
para o sorriso dele... ele parecia um garoto. Terminei de comer o prato de
risoto, saboreando cada garfada, até que o garçom chegou com a sobremesa.
-Pedi uma tarte tartin, se você não se
incomoda. - ele pegou o garfo e comeu um pedaço da torta.
-Não se preocupe - dei uma mordida e
suspirei quando senti o gosto de maçãs mornas na boca. -Adoro doces!
-Bom saber...
Dominic me olhou, pensativo, e comeu
um pedaço da torta.
-Em que horário vocês vão para
Portland?
-No começo da tarde... Por quê?
Ele segurou minha mão, que estava
pousada na mesa, e deu um sorriso encantador.
-Gostaria de te ver novamente... antes
dos feriados.
Fiquei pasmada. Ele realmente
queria me ver novamente! Não consegui conter um sorrisinho ao olhar
para Dominic.
Respirei fundo.
-Então venha me ver amanhã. - minha
voz saiu rouca -Antes da minha viagem.
Apertei a mão de Dominic, que ainda
estava sobre a minha. Eu queria que ele fosse me ver, nem que fosse por uns
cinco minutos!
Ficamos em silêncio por um tempo,
apenas olhavamos nos olhos um do outro. Foi Dominic quem quebrou o silêncio
primeiro.
-Vamos embora?
Assenti, decepcionada. Achei que ele
ia falar algo sobre nos vermos novamente.
Saímos do restaurante e andamos na
direção de Crane, que rapidamente abriu a porta do carro para nós. Entrei no
carro e me encostei no banco. Estava começando a sentir sono, tanto que nem
percebi quando o carro começou a se mover.
-Katherine? - a voz de Dominic era
suave como veludo.
Eu nem percebi que havia adormecido.
Olhei para Dominic, sonolenta.
-Sim?
-Eu preciso saber onde você mora.
-Ah... - falei o nome da rua
Dominic virou a cabeça para Crane, que
dirigia, e comentou algo. Eu só ouvi o final da frase:
-Little Italy... não é
contra-mão, é?
-Não, senhor. Apenas demoraremos um
pouco para chegar lá.
-Não tem problema, Crane... - eu o
ouvi sussurrar -É ainda melhor que demore.
Eu adormeci logo em seguida, com um
sorriso no rosto.
Acordei com Dominic acariciando minha
bochecha e falando meu nome com a voz macia, feito veludo. Olhei pela janela do
carro, ainda meio sonolenta, e vi a fachada grafitada do meu prédio.
-Chegamos...
Dominic deu um leve sorriso para mim.
-Sim, srta Harper. Este é o endereço
que a senhorita nos deu, não?
-É... - ajeitei os cabelos, peguei
minha bolsa e saí do carro. -Obrigada pelo jantar e pela carona, senhor Ambrose.
Dominic passou o braço sobre meus
ombros e começou a andar comigo.
-Eu que agradeço, Katherine... foi um
prazer.
Fiquei tão encantada e surpresa dele
falar meu nome que deixei minhas chaves cairem. Dominic as pegou e me seguiu
até a porta do prédio.
Estendi minha mão.
-Preciso das minhas chaves, senhor
Ambrose.
Ele sorriu de um jeito que quase fez
minhas pernas dissolverem e foi se aproximando de mim. Inconscientemente, fui
andando para trás até sentir a parede contra minhas costas.
-Acho que você não pode mais escapar de
mim, Katherine. - ele passou os dedos sobre meus lábios, como uma carícia.
-Adoro sua boca... quero te morder.
Suspirei, me sentindo absurdamente
agitada. Fiquei prensada entre a parede e o corpo forte de Dominic, e conseguia
sentir perfeitamente o corpo dele. Ele passou as mãos pelo meu cabelo e,
puxando-o para baixo, me beijou. A outra mão estava acariciando meu pescoço,
tirando o resto de ar que eu tinha nos meus pulmões, e estava descendo em
direção aos meus seios.
Do nada, ele se afastou de mim. Tive
que me manter apoiada na parede, tentando encher meus pulmões de ar novamente
e, ao mesmo tempo, querendo pedir mais.
-Deliciosa. - mordi o lábio,
suspirando, e ele o soltou delicadamente com o dedo, rindo -Absolutamente
deliciosa. Qual é o seu apartamento?
Respirei fundo, procurando minha voz
no fundo da garganta.
-307. Sétimo andar.
-Bom... te vejo amanhã cedo.
Dominic colocou as chaves na minha mão
e andou em direção do Mercedes. Crane rapidamente saiu do carro e abriu a porta
do passageiro. Pisquei algumas vezes, procurei a chave e entrei no prédio,
completamente atordoada.
Será que não tinha sido um sonho?
Entrei no apartamento na ponta dos
pés, não querendo acordar Lex, minha colega de quarto... mas ela estava na
sala, de baby-doll e bebendo uma Coca.
-E aí, baladeira? Conheceu
algum cara? - piscou, carinhosamente para mim.
Alexandra Daniels era minha melhor
amiga. Nós conhecemos na primeira aula de Introdução à Literatura Inglesa,
descobrimos que éramos fãs do Muse e dos livros de Jane
Austen. Foi amizade ao primeiro "oi".
Abri a geladeira e peguei uma garrafa
de água.
-Conheci, sim. Ele me levou pra
jantar...
-O quê? - Lex me puxou para o sofá e
deu um longo gole em sua Coca diet -Nome, como ele é, onde
foram... quero saber todos os detalhes!
-O nome dele é Dominic Ambrose. Ele é
lindo.
-Isso é meio óbvio, Kat! Quero
detalhes.
-Ok.. Ele é alto, 1m80, eu acho. E
muito forte. - corei, me lembrando da cena no lobby -Tem
cabelos escuros e curtos, pele bronzeada, sorriso bonito e olhos castanhos
muito, mas muito sedutores...
Parei de falar, sentindo meu rosto
queimar, e escondi meu rosto com uma edição de bolso de "Jane Eyre".
-Ele te beijou, Kat. Não beijou? - Lex
afastou o livro do meu rosto e olhou fixamente para mim, rindo.
Olhei para ela, questionando-a
silenciosamente.
-É que o seu batom está
borrado... ele mandou ver!
-O quê? - gritei, correndo para o
espelho no meu quarto. Lex tinha razão. Meu batom cor-de-rosa estava borrado,
minha boca estava inchada e minhas bochechas estavam rosadas. -Acho que vou
dormir...
Lex deu um risada que chegou à vibrar
as paredes do meu quarto e ligou a TV em um episódio de "South Park".
Cheguei a ouvir o Cartman mandar alguém se fuder. Fechei a porta, entrei no
banheiro e liguei o chuveiro, entrando debaixo do jato quente. E deitei na
cama, vestida com meu pijama favorito de plush rosa e sem parar de pensar no
beijo que Dominic Ambrose me deu naquela noite.
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